terça-feira, 27 de julho de 2010

Agência Nacional do Petróleo faz estudos preliminares na região Sudoeste

A ANP (Agência Nacional do Petróleo) está realizando estudos preliminares de petróleo em cinco estados do Brasil (Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Dos 2.155 quilômetros da linha de levantamento sísmico no país, 922 ficam no Paraná, que tem 55 municípios beneficiados - 19 deles no Sudoeste. Cinco empresas concorreram na licitação para executar o projeto, no valor de R$ 62,4 milhões. Quem venceu foi a Georadar, de Nova Lima (MG), que começou os trabalhos no final do ano passado e tem previsão de finalizar em dezembro deste ano. A equipe que está trabalhando no Sudoeste é formada por 280 funcionários. Mas eles fazem revezamento, ficando 40 dias no campo e outros 20 em casa.

Nesta semana, a reportagem do JdeB acompanhou a equipe da Georadar na comunidade Alto Pinhal, em Salto do Lontra. É um trabalho discreto, que quase passa despercebido por quem está apenas de passagem pelas terras pesquisadas. Nas encruzilhadas, códigos como 2019 ou 2020, que a equipe da Georadar utiliza para se guiar em um local desconhecido, sem precisar de um GPS. Cada número desses representa um PT, ou seja, um ponto de tiro.

Processo demorado
Achar gás natural ou petróleo não é um processo simples - é demorado, inclusive. Mas este nem é o objetivo da ANP, que apenas faz um estudo preliminar sobre o solo, para saber se há viabilidade ou não. “A gente faz uma espécie de raio-x do subsolo. Todos esses dados coletados agora serão estudados e as informações serão confidenciais da ANP. Mais tarde uma empresa do setor pode comprar esses estudos e explorar o local”, explica Raphael Ranna, um dos responsáveis da ANP na fiscalização dos trabalhos da Georadar.

Segundo ele, a Bacia Sedimentar do Rio Paraná é caracterizada pelo basalto, ou seja, rochas vulcânicas bastante rígidas, que dificultam o estudo. “A gente não consegue ver muito bem o que tem embaixo, mas sabemos que é uma bacia com vocação para exploração do gás natural. Nada impede de acharmos petróleo também.” Raphael não tem como afirmar se o Sudoeste pode ser produtor de gás ou petróleo ou não. “Nos Estados Unidos, existem bacias muito parecidas com essas e que são produtoras de petróleo. Mas isso não significa que haja grande possibilidade de acontecer o mesmo aqui”, analisa.

Entretanto, Raphael acredita que a região de fronteira tenha a característica ideal, devido à profundidade e por ter a matéria orgânica aquecida. “Essas rochas são consideradas com potencial para gerar petróleo. No mundo, para ter potencial é preciso 2% de matéria orgânica na rocha e aqui esse índice é de 23%. Mas isso depende de temperatura e uma série de fatores”, conclui. Essas rochas chamadas reservatórias ficam a uma profundidade de 2.500 a 3.000 metros.

Equipes de trabalho
O levantamento sísmico segue algumas etapas. Primeiro passa a turma da permissoria nas propriedades, para conseguir a autorização do produtor. Ele assina um documento que faz com que a equipe tenha permissão para efetuar o trabalho na área. “Às vezes, alguns pedem para consultar o advogado antes de assinar, mas nós esperamos. A maioria permite o nosso trabalho”, comenta Bruno Henrique Martins, geofísico e chefe da equipe S301 Sul da Georadar. Em seguida, passa no campo a equipe da topografia, que faz o levantamento dos pontos de tiro e coloca os geofones, que são receptores de sinais.

Na sequência, entra em ação o grupo da sonda, que faz as perfurações no solo. São furos que variam de 1,5 a 4 metros de profundidade. Aí passa a equipe do carregamento, que coloca cargas explosivas nesses furos. São três quilos de dinamite biodegradável em cada ponto de tiro. Depois, vem o pessoal da sismografia, que passa fazendo a detonação e a captação de dados. A dinamite é detonada pelo blaster, que tem um curso técnico e habilitação para utilizar explosivos. Por último, é a vez o grupo da inspeção, que tapa os buracos e retira as estacas e sinalizações.
Segundo Bruno Henrique, a Georadar tem uma meta de finalizar 100 quilômetros de linha por mês. “São cinco quilômetros por dia, é um trabalho que exige uma grande logística. Se a gente atinge a meta, tem churrasco no alojamento”, comenta.

Indenização
Depois que todas as equipes da Georadar passam no terreno, o proprietário é ressarcido pelos danos causados. “O pessoal da inspeção faz uma avaliação do que foi danificado e, dentro de alguns meses, repassa a indenização. A gente passa com veículos nas lavouras, abre alguns buracos, isso causa prejuízo para o produtor”, admite Bruno Henrique.

Segundo ele, a empresa obedece a tabela de indenização do Sindicato dos Agrônomos do Rio Grande do Sul, pois os sindicatos do Paraná e Santa Catarina estão com valores já defasados. “É uma forma de evitar que o produtor fique com prejuízo.”

Royalties

Em um prazo de, no mínimo, dois anos, caso haja alguma propriedade do Sudoeste que possa ser explorada, o proprietário e o município receberão royalties pela produção. É algo que gira em torno de 1% do que for extraído. De acordo com Bruno Henrique, no Rio Grande do Norte, um dos maiores produtores de gás natural, uma propriedade com uma plataforma recebe em torno de R$ 5 mil a R$ 8 mil por mês. “Não é uma mina de dinheiro como todo mundo pensa, mas é uma boa renda”, comenta. Ele diz ainda que o produtor rural é dono apenas de uma camada de 30 centímetros de profundidade do solo. O que tem a-baixo disso pertence à União.

Agricultores elogiam trabalho de pesquisa
A maioria dos agricultores que tiveram suas terras pesquisadas pela Georadar elogiaram o trabalho da empresa. “Aqui eles pediram a autorização, limparam tudo e disseram que vão ressarcir num período entre três e seis meses”, comenta Antônio Giacomoni, do distrito de Nova Espero, interior de Pato Branco. Os pesquisadores passaram por uma linha de 290 metros dentro de sua propriedade, no meio da plantação de erva-mate. Antônio diz que torce para que alguma propriedade da comunidade seja explorada, por causa dos royalties. “Nosso distrito merece uma propriedade com características para explorar petróleo. A gente ganharia royalties e poderíamos ajudar a população”, diz.

Em Coronel Vivida, o produtor Altamir Feltrin também assinou autorização para que o trabalho fosse realizado em suas terras. “Eles não danificaram quase nada e a gente sabe que a pesquisa é importante”, declara. Cerca de 800 metros de suas terras foram cortados pela linha sísmica. “Quem sabe um dia a gente não ganha uma renda a mais com a exploração de petróleo. Seria muito bom.”

19 municípios
Chopinzinho, Coronel Domingos Soares, Coronel Vivida, Eneas Marques, Francisco Beltrão, Honório Serpa, Itapejara D’Oeste, Mangueirinha, Mariópolis, Nova Esperança do Sudoeste, Palmas, Pato Branco, Realeza, Salto do Lontra, Santa Izabel D’Oeste, Saudade do Iguaçu, Sulina, Verê e Vitorino.

Fonte: Jornal de Beltrão