sábado, 7 de agosto de 2010

Região de Francisco Beltrão é campeã em mortes por câncer de pulmão

Um mistério intriga as autoridades de saúde do Paraná. Os municípios da 8ª Regional de Saúde têm um dos maiores índices de mortalidade por câncer de traqueia, brônquios e pulmão. O número é duas vezes maior que as médias estadual e nacional. Enquanto, em 2008, o Brasil registrou 15,5 mortes para cada 100 mil habitantes, o Paraná teve 16,2 e a região de Francisco Beltrão, 31,8 óbitos. Os dados se igualam aos do Estado do Rio Grande do Sul, que tem as maiores ocorrências por este tipo de morte.

O problema foi identificado a partir de um estudo realizado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) na macrorregião Oeste, entre os anos de 2004 e 2008, que comparou os casos computados nas regionais de saúde de Francisco Beltrão, Foz do Iguaçu, Cascavel e Toledo. O hábito de fumar e o diagnóstico tardio associado à resistência ao tratamento são apontados por profissionais de saúde como os principais responsáveis pelas altas taxas de mortalidade por neoplasia de pulmão.

A enfermeira chefe da Divisão de Doenças Não Transmissíveis da Sesa, Alice Eugênia Tisserant, diz que há necessidade de um estudo mais aprofundado para descobrir os fatores que levam a microrregião a apresentar dados superiores à média do estado e país.

Cigarro é o maior vilão
O pneumologista Redimir Goya observa que o cigarro é o principal causador das doenças de traqueia, brônquios e pulmão, especialmente o câncer. Ele explica que os sintomas se confundem com qualquer outra doença respiratória: tosse, catarro e falta de ar. "Somado a isso, existe o temor das pessoas fumantes de procurar o médico, porque sabem que a primeira recomendação será para deixar de fumar e nem todos estão preparados para lutar contra o vício", pontua.

Estima-se que 80% a 90% das incidências de câncer de pulmão sejam atribuídas ao fumo. Comparados com os não fumantes, os tabagistas têm cerca de 20 a 30 vezes mais risco de desenvolver câncer de pulmão.

Segundo o médico, existem evidências na literatura de que pessoas com história familiar de câncer de pulmão apresentam o risco aumentado para o aparecimento da doença, especialmente nos indivíduos que desenvolveram o câncer em idades jovens. Entretanto, é difícil estabelecer o quanto desse excesso de risco é em decorrência de fatores hereditários e o quanto é por conta do hábito de fumar. Goya não descarta a possibilidade dos fatores hereditários terem influência nos índices negativos de Francisco Beltrão e municípios vizinhos. A região é colonizada por gaúchos e o Estado do Rio Grande do Sul detém a maior taxa de mortes por câncer de pulmão do país.

Envelhecimento e câncer de pulmão
A faixa etária de maior incidência de câncer de pulmão está na população acima dos 50 anos. O chefe da Divisão de Informação e Análise da Situação da 8ª Regional de Saúde, Benvenuto Juliano Gazzi, informa que o câncer é a segunda causa de morte da região, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares. As duas são enfermidades características da terceira idade. Em 1986, a microrregião tinha 28.941 cidadãos com 60 anos ou mais, em 2009, a quantidade de pessoas com esta faixa etária subiu para 42.000 (130%).

Redimir Goya diz que a população está envelhecendo com mais qualidade de vida. "O Sul do país segue a tendência das nações industrializadas, onde as pessoas começam a morrer por doenças causadas com o avanço da idade, ou seja, quanto mais se vive, mais chances de desenvolver o câncer. Ao contrário do que ocorre no Norte, onde há muitos casos de morte por doenças infecto-contagiosas, e do Rio de Janeiro, em que muitos vão a óbito por tuberculose", compara o pneumologista.

Câncer tem cura, basta acreditar
A descoberta do câncer na família é sempre dolorida. O tratamento é longo, exige sacrifícios, mudanças na rotina, viagens constantes e o resultado nem sempre é o esperado. Não são todos os pacientes que assimilam a doença, o desgaste psicológico e o abatimento são fatores que só pioram o quadro clínico.

Lucélia Bortot Rama conta que a família descobriu recentemente que seu pai, de 72 anos, tem câncer de pulmão. "O primeiro sintoma apareceu em março, quando ele começou a vomitar sangue", recorda. O idoso foi levado para o Centro de Saúde 24 Horas e encaminhado para um hospital da cidade. Os exames de raio-X e tomografia do tórax demonstraram uma lesão no pulmão. A biopsia confirmou ser um tumor.

Segundo ela, o pai foi fumante por mais de 60 anos e agora está reticente e não aceita o tratamento oncológico. Por coincidência, Lucélia é funcionária da Secretaria Municipal de Saúde de Francisco Beltrão no setor de agendamento dos pacientes oncológicos. "Eu vejo tantas pessoas lutando contra a doença, indo semanalmente para Cascavel fazer o tratamento e o meu próprio pai não quer se tratar", lamenta.

Fonte:Jornal de Beltrão