segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Salto do Lontra: Wilson e Regina Nunes: lideranças que ficarão na história do município


Quando Salto do Lontra ainda era distrito de Francisco Beltrão, em 1961, Wilson e Regina Nunes trouxeram suas malas ao Sudoeste. A princípio, a intenção era ficar um mês apenas - estão até hoje no município. Segundo Wilson, a vinda de médicos de Curitiba para o interior do Estado era praticamente um hábito. “Só da minha turma, vieram, pelo menos, uns 15 médicos”, diz.
Mas não havia emprego para médicos na região. O que se tinha era uma necessidade por profissionais de saúde. “O médico que quisesse trabalhar, precisava construir um hospital ou, pelo menos, um consultório”, conta Wilson, que fez um financiamento e inaugurou o Hospital Nossa Senhora de Fátima, em 1962 - a primeira estrutura era de madeira, mas o prédio que se tem hoje foi feito na década de 1970.
“A região de Salto do Lontra até a costa do Rio Iguaçu, só tinha o Wilson com hospital. Naquela época a gente tinha um movimento muito grande”, lembra-se Regina, que sempre ajudou o marido no empreendimento da família.
Segundo ela, naquela época se atendia em torno de 80 partos por mês. Hoje em dia, essa média caiu para 12. “Salto do Lontra tinha cerca de 25 mil habitantes, depois acabou se desmembrando e surgiram também outros hospitais”, diz Wilson, que garante já ter feito mais de quatro mil partos no município. “Eu cheguei a manter uma média de 400 partos por ano durante dez anos.”

O início da carreira política
Para Wilson Nunes, que é natural de Prudentópolis, a carreira política deve ser cíclica, ou seja, cada um faz a sua parte e depois deixa para que outra pessoa dê continuidade. E foi assim que ele assumiu como primeiro prefeito de Salto do Lontra, logo que o município foi emancipado, em 1964. “Havia muita coisa para ser feito.” A primeira medida que tomou foi alargar a avenida, prevendo o crescimento da cidade. “Tivemos que recuar o nosso hospital em oito metros. O pessoal reclamou muito na época, mas as casas eram de madeira, mais fáceis de serem mudadas”, acrescenta. E hoje o resultado é visível, pois há um bom planejamento nas avenidas da cidade.
O único arrependimento de Wilson Nunes em sua carreira política foi não ter se lançado candidato a deputado estadual. Ele teve a oportunidade quando terminou seu mandato como prefeito, mas preferiu se dedicar mais ao hospital. “Quem sabe hoje Salto do Lontra poderia ter um deputado na história. Agora é mais difícil”, comenta. Segundo ele, o momento era bom, e tinha o apoio do deputado Arnaldo Busato, responsável pela emancipação do município.

Regina recebeu homenagem pelo pioneirismo
Regina, 76, natural de São João do Triunfo, perto de Palmeira, recebeu uma homenagem recentemente do Conselho da Mulher Empresária de Salto do Lontra. O destaque dela é o pioneirismo como empresária no município, sempre viabilizando o hospital, mesmo diante de algumas dificuldades que vieram com o tempo. “A gente fica muito contente quando as pessoas reconhecem o trabalho que você presta para a comunidade”, comenta Regina.
Quando veio para o Sudoeste, ela largou os estudos e acabou adormecendo o sonho de cursar medicina, como o marido. “Era o machismo burro da época. A gente pensava que ela não ia precisar trabalhar”, diz Wilson. Mesmo assim ela sempre foi estudiosa. “Eu gosto de pesquisar o que pode e o que não pode. A gente precisa estar preparada para gerenciar um hospital”, declara Regina.
Depois de ter se tornado vovó, Regina resolveu começar um curso de Enfermagem, na Universidade Tuiuti, em Curitiba. Ela estava fazendo um tratamento demorado na capital, que levaria alguns anos. Por isso decidiu estudar um curso superior para se ocupar. “No começo foi muito difícil, mas fui levando e me formei”, conta. Na formatura, ela recebeu o título de melhor aluna. “Fiquei surpresa, mas muito feliz.”
Então Regina voltou para Salto do Lontra, onde começou a trabalhar no PSF (Programa Saúde da Família) do município, função que deixou de exercer há pouco mais de um mês. “Agora eu me dedico inteiramente ao hospital”, complementa.

Hino de Salto do Lontra foi escrito por Wilson Nunes
Ainda quando era prefeito, Wilson Nunes se preocupou muito com os registros do município. Tanto é que tem um acervo de fotos muito grande, com acontecimentos da época. É com esse intuito que Wilson escreveu o hino de Salto do Lontra. “Eu guardo até hoje a primeira cópia da letra da música e o bolachão com a melodia, interpretada pela Polícia Militar de Curitiba”, conta Wilson.
A frase mais marcante do hino é a que denomina Salto do Lontra como o Coração do Sudoeste. “Olhando o mapa da região, pode-se perceber que o município fica bem na posição do coração, quase no centro. Então coloquei essa frase, que caiu bem”, relata. Hoje esta frase é utilizada pela administração municipal de Francisco Beltrão, “mas eu que criei”, garante Wilson. Segundo ele, faltou Salto do Lontra valorizar um pouco mais esta marca, que acabou se perdendo no esquecimento.

Únicos paranaenses
Quando o casal chegou a Salto do Lontra, um fato interessante é que eles eram os únicos paranaenses que moravam no local. “Todo mundo veio do Rio Grande do Sul ou Santa Catarina. A gente até estranhou isso quando chegamos”, conta Regina. “Talvez por isso que colocaram meu nome como prefeito na primeira eleição”, acrescenta Wilson, que sente saudade daquele tempo. “Era difícil, mas muito gostoso viver sem muitos recursos.”

Filhos e netos
Wilson e Regina Nunes têm sete filhos. Três deles nasceram em Curitiba e os demais em Salto do Lontra. A mais velha é Maria da Graça, 53, que mora em Los Angeles (EUA) e trabalha como psicóloga. A segunda é Maria Beatriz, 51, que é engenheira civil no Rio de Janeiro. Depois vem Maria de Lourdes, 50, que é engenheira florestal e gerente da Fundação Boticário, em Curitiba. A quarta filha é Mariângela, 48, fonoaudióloga, que também mora em Curitiba. A quinta filha é Maria Raquel, 45, arquiteta. O mais novo é Wilson Júnior, que mora com os pais, nos fundos do hospital, e trabalha com reformas de carros antigos. Wilson e Regina têm ainda uma filha de criação, Maria Odite da Cosa, que também mora com o casal. No total, são 11 netos. “A neta mais velha está cursando medicina, pois meus filhos não quiseram seguir a carreira”, conta o médico e político lontrense.

Fonte Jornal de Beltrão